5.9.09

EM REDOR DE NÓS


O que é o luxo? Um carro topo de gama? Uma casa com jacuzzi na varanda e vista para o campo de golfe e para o mar? Um sistema de som high-tech, uma refeição de ostras, trufas, caviar e champanhe? Pensar em luxos não é difícil. Todos temos ambições, sonhos... e frustrações. Todos já imaginámos um dia-a-dia sem o sufoco da contagem, todos já ansiámos sair desta vide de filme de baixo orçamento.

Quando já não se aspira uma viagem a um lugar exótico, aspira-se por uma ida à lua., e se um carro topo de gama já não anda o suficiente, um avião a jacto certamente andará. Os nossos sonhos e ambições são feitos à nossa medida, à medida das nossas insatisfações, porque o homem é, por natureza e definição um ser angustiado, inatamente frustrado, eternamente insatisfeito...

Vivemos na era do ter. Se tu tens e ele tem, eu também tenho de ter. Claro que o dinheiro ajuda, mesmo não trazendo felicidade. O pior é quando a felicidade pode estar nalgumas coisas que o dinheiro pode comprar. E quanto mais se pode, mais se tem. E quanto mais se tem, mais se quer. Quanto "custa" sermos felizes?

Umas férias alegram-nos, uma refeição satisfaz-nos, um pedaço de verde e de brisa também. E as férias tanto podem ser no Dubai como num recanto esquecido da Gulbenkian, de um jardim municipal, de recantos que não conhecemos tão perto de nós, ou apenas não os valoramos. A felicidade pode estar tanto nas grandes como nas pequenas viagens. Viagens ao interior de nós, no "silêncio e tanta gente", viagens para descobrirmos outras terras, outras latitudes, outros prismas de visão: todo um mundo dentro de nós! O dinheiro ajuda. Mas não compra nada, não dá nada, não oferta a visão de um prado refrescante com amigos e pessoas que nos sejam queridas. E com pessoas que acabámos de conhecer, mesmo ali, e que são produtos naturais da espontaneidade num amor universal.

A felicidade pode estar nas pequenas viagens e nos sítios e momentos que menos tomamos como a sendo. Basta não estarmos constantemente à procura da viagem. A felicidade também se encontra nos momentos, no deixarmo-nos perder... para nos admirarmos como nos encontrámos pelo braço de alguém desconhecido. Tudo o resto é o peso das teias de aranha que acumulamos na impreterível maneira de ser, justificando com isso todas as nossas atitudes. Quantos não acabam sós logo no início em nome do orgulho e de viagens que nao fazem ao interior de si? Temos sempre de repensar e actualizar as nossas decisões. É que a felicidade é, também e sobretudo, o simples gesto do encontro, o riso descontraído e aberto, o ser confiante, a comunicação autêntica. Se não soubermos viajar assim, então estaremos sempre a fugir de nós.


Nota: Obrigado, Gonçalo pelo prémio "Vale a pena ficar de olho neste blog", e obrigado André Couto pelo prémio de "blog viciante". Já os coloquei orgulhosamente aí na barra lateral direita junto com os outros que me foram amavelmente oferecendo :)