De repente estava lá. Todo o mar oculto desabrochando em vivos rochedos. Harmonia grandiosa, paisagens belas, magníficas, naturais, paradisíacas. Ilha de aroma revitalizante com gaivotas pelas encostas. Um chão de rocha ladeado pela água. Alguns corredores naturais numa água translúcida, apetitosa e calma.
De lá, daquele recanto meu, escrevi-te o que era o Mundo. Disse-te que as lágrimas se confundem com o próprio mar, salgado, forte, ondulante e não apenas revoltoso como triste. Mas também depende da carga emocional e dos desejos transpostos do mundo interior e das frustrações que obrigam as pessoas a uma metamorfose rígida, temporariamente necessária, incessante. Dali abarcava o mundo e as suas ondas, imagina. Ondas vivas, propagadas pela água, pelo vento forte, pela espuma cerrada depois do mar espaldado contra a rocha. Ondas de viver...
Exilado podia ser um bom termo com pequenas ambições de pescar outros sonhos e realidades do mar da Vida ali plantado, ao lado, por baixo e sobre a rocha, onde alguns se confundiam, como eu, com o amanhecer e o deleitar de uma tarde, transmissores humanos de vozes alheias. Compreendi tanto olhando apenas aquele universo, sem tristeza ou alegria, que não mais quis regressar. Fosse eu contar o que vira, o que sentira, o que compreendera. Mas não iam entender. Ali, sob aquela rocha. Ali imenso no oceano calmo e turbulento. A sondar actos do viver. Ali enchi-me de azul e de mar, de cinzento e de gaivota, de silêncio e de entendimento universal. Compreendi tudo. Não te tinha eu prometido? Não voltes a deixar que te firam o espírito. Há ondas de mar que te trazem a paz que as palavras não dão, que as respostas não acreditam, e que os espíritos assaltam. A ilha da paz, da paz interior, depois do custo das tormentas, acabava de se tornar realidade. Basta saberes que os tubarões não podem sobrevoar a costa, e as gaivotas estarão a salvo.