13.11.09

OS IGNAROS


Os espertos são os néscios da condição humana. Usam todas as ferramentas pessoais ao seu dispor para concretizar o mais mesquinho objectivo, e sentem-se grandes por isso. Tanto pode ser a simples desonestidade como o golpe do baú, os ardis financeiros ou a carapuça reluzente que esconde uma dantesca ignorância. Mas existe um défice no meio de tudo isto. Grave. Uma lacuna não preenchida que acaba por ter um efeito real. E é exactamente por isso que só aquele que sabe calar o barulho do mundo, não se deixa impressionar com o barulho dos outros numa desgastante rotina de servidão humana. É, aliás, a este nível, que se desenvolvem os instintos que mais criticamos.

Somos intrinsecamente bons, mas automatizamo-nos para constantes duelos de que somos proponentes, e depois já não passamos sem eles. Aí sim, toda a miséria chegaria abstrusamente à superfície, e juntos sucumbiriam ante a verdadeira finitude. Por isso usam limalhas artificiais onde se consegue um patamar que, não sendo o horizonte, também esconde o cano de esgoto. E, com essa notável capacidade de camuflagem, o edifício em construção acaba sempre por ser o andar-modelo.

Não critico o uso das capacidades primitivas de percepção, e o concomitante uso da esperteza, já que podem não conseguir mais do que isso. Talvez, afinal, não sejam inteligentes. Só a formação humana garante à pessoa que não caia sistematicamente naquela zona primária, estanque e voraz, onde nos colocamos acima de todos, antes optando pelo núcleo de valores que enformam a vida na sua própria dignidade. Aquilo que critico é o recurso contínuo ao imediato em detrimento de propósitos mais dignos do que básicos instintos.

A capacidade de nos afirmarmos com o pleno sentido de Humanidade, passa inevitavelmente pela coragem de sermos nós próprios, sem irmos atrás do que ouvimos, sem subterfúgios ou sentimentos de vergonha perante aquilo que possa ser socialmente incorrecto. A era moderna não são as modas efémeras ou o politicamente correcto, mas o núcleo de valores que possamos ter e transmitir! De outra forma, não passaremos de espectadores passivos num mundo redutor e anónimo.


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Dos comentários anteriores, permitam-me escrever isto, sem demérito de nenhum outro, de que estou sempre agradecido.

Dulce,
Obrigado pelas suas palavras mas não volte a fazer o mesmo: não se subestime nem ache que tem de dizer coisas bonitas ou que não está à altura. Eu penso o mesmo de tantos outros blogs. Estamos sempre à altura de nós mesmos e isso basta. Obrigado pelas suas tocantes palavras, mais do que pela erudição que queria que tivessem. É aí, no coração e na simplicidade que me sinto "erudito" e eu mesmo. Nunca no resto. NUNCA.
Obrigado, Dulce, por não me tornar único.

Queria igualmente dar hoje os parabéns ao clips de vidro, um blog que faz hoje um ano.