Há dias veio parar-me às mãos uma dessas muitas revistas que nos mostram famílias e decorações de Natal como se fossem cartões estáticos de Boas Festas VIP. Pessoas vestidas com roupas aveludadas, enfeites de mesa como se a aguardar algum banquete real, presépios de vários feitios e formas, mistificados e dourados, árvores de Natal perfeitas, outras menos tradicionais com arames e estruturas metálicas, plásticos e papel a substituir os troncos e os ramos, enfim, todo um ambiente de luz, cor e luxo que me fizeram reflectir um pouco. Serão estas fotografias de gente feliz (com tudo o que isso esconde) que alimentam o sonho do homem médio ao afobar-se no calor das compras, invadindo feiras, Continentes e Jumbos, como quem se abraça a um preço mais sorridente, qual Harrod’s português natalício? Serão estas famílias VIP que seguram o desejo de imitar o luxo e uma casa descabidamente grande? E o homem comum lá continua entre o desencanto do frio e da chuva, enquanto espera cheio de sacos pelo autocarro, e a idealização de uma outra vida embrulhada numa revista.
Falta-nos calor autêntico, mas ainda há gente com faces rosadas de partilha e de ânsia, até mesmo de encanto e de brilho, apesar da mecanização que outros fazem do acto. São os simples da vida, já que a verdadeira riqueza é o dom do Amor. Temos de saber preparar o Natal como festa de amor humano e divino, como tempo de descanso e reencontro, e não como o motor em movimento de uma fábrica desumanizada de prendas e agitação interior. Assim, também o Menino entrará em nossas casas se houver um coração quente, e não apenas uma lareira dourada.