A política não me move. O sentido de justiça, sim. O que podendo ser a mesma coisa, definitivamente não é. Mas se escrevo já outro post quando o anterior ainda nem sedimentou, é porque é hoje que tenho de dar o meu contributo. Não sei se comemoro coisas, mas sei que comemoro pessoas. Miguel Portas foi-se embora e é só por isso que escrevo. Para quem me segue, sabe que sou apartidário, o que me deixa ainda mais livre quando se comemora o 25 de Abril, se discute actividade política ou recebemos notícias como estas.
A liberdade não é exclusivo nem apanágio de nenhum partido ou de centrais sindicais! Mas posso deixar uma palavra de apreço particular a Salgueiro Maia, muito mais que os Otelos ou Saraivas de Carvalho com tudo o que de importante também fizeram na altura. Mas vim aqui pelo Miguel Portas, ou melhor, por aquilo que o seu desaparecimento me choca, não por ser deste ou daquele partido, muito menos por ser um político, mas por ser o político que era. Não discuto a bondade ou a discordância das suas ideias! O que homenageio é a pessoa de bem que era, a diferença no panorama da classe política onde felizmente não é o único a lutar pelas pessoas e não pelas ideologias. Admiro uns quantos políticos portugueses (alguns sem papel relevante mas é no silêncio que se faz a transformação) e de quase todos os quadrantes, mas são poucos a demarcar-se na formação humana do dever da coisa pública e não dos interesses pessoais. Como Miguel Portas. Como José Gomes Ferreira (economista e comentador. Como alguns outros que se destacam mais numa cor do que noutra, embora na mesma rara massa de servir e não de ser servido.
Sócrates mentia descaradamente, ajudou-nos a trazer a este Titanic que podia ter salvo mais pessoas se tivesse sido mais honesto, pessoal e polticamente. Não tem qualquer peso na consciência pelo miserabilismo actual e futuro do povo. Houve muita engorda do Estado que nada tem a ver com crises internacionais ou culpas dos partidos. Isaltino Morais é condenado em vários processos, Fátima Felgueiras também, mas qual Socrates cuja consciencia é estar em Paris - (obviamente nao nas ruas) à espera do seu momento para de novo salvar a Pátria, sem esquecermos neste dia de liberdade a tentativa de domíno generalizado da comunicação social (televisões, jornais, como se lembram) que tentou, ou as trafulhices de Freeport e afins -, facto é que nenhum deles responde criminalmente por nada, mesmo os sentenciados, sem a mais leve pena que não ainda por cima o aplauso do povo ignaro, qual violência doméstica que alguém aceitou de tanto se habituar. A todos os outros que não são assim e se demarcam na formação humana do dever da coisa pública e e não dos interesses pessoais, a todos esses homenageio no desaparecimento de Miguel Portas, em que embora o seu pensamento não fosse muitas vezes o meu, foi sempre o desinteresse pessoal na convicção de defender por quem estava mandatado (o povo), que o moveu, e não os luxos tácitos ou as orçamentações, como denunciava no vídeo que dele corre há muito na net, numa intervenção no Parlamento Europeu.
É isto que eu comemoro, meus amigos. A formação humana de não nos termos mais do que aos outros, de que a política é a nobre arte de servir, embora há muito apenas no conceito. Como dizia Elisabete Leseur, "pensemos mais na humanidade e menos nas pessoas". É o que me ocorre mais dizer, homenageando a bondade dos que são e não o desaparecimento daqueles que, mesmo vivos, não fazem falta.