Contemplo o ritmo estonteante com que as pessoas passam e por vezes se atropelam. Onde vão como autómatos comandados? Que pressa as rege como notícia urgente de última hora? O frenesim não pára e algumas quase se atropelam. Decerto haverá jantar para fazer, almoço ou horários a cumprir, mesmo que já só façam parte da rotina automatizada a que muitos não querem escapar sob pena de desnorte. Mas o desnorte é a própria rotina que nos afunda num tanque existencial sempre justificado com tanta ocupação e afazeres. E com tanta inanidade. As coisas mais belas são as mais simples, não as mais caras. E é nesses instantes que acontece a felicidade. Tê-la, é perpetuar esses momentos diariamente reinventados, ir por outros caminhos, sentar na esplanada onde só se passa, sentir como o manto crepuscular suavemente cobre o dia e a cidade se ilumina, ler nas pessoas o enfado automático da espera ou da viagem depois do trabalho e não lhes reconhecer nada que as faça sorrir! E solidão. Muita solidão em pó de arroz e gravata. E ver tantos diálogos nados-mortos em pessoas predispostas.
Dinheiro. Talvez o dinheiro explique tudo. Não teriam de andar macambúzias, sorumbáticas, de má cara. Talvez nem tivessem de trabalhar! Seriam felizes como turistas sorridentes que parecem estar sempre na iminência de meter conversa. E bem. Mas não. O dinheiro é apenas o pretexto colectivo para cada um individualizar o ar sisudo e descontente da vida que tem. Mas o euromilhoes só brilha no início a quem lhe sai. Porque o dinheiro não compra amigos. Nem os faz. E os que se aproximam por dinheiro são outra coisa. O dinheiro pode pagar viagens, jantaradas e festarolas. Pode comprar casas, carros e acções na bolsa, mas não, não compra amigos. E são os amigos e aqueles que mais amamos, que nos permitem ser felizes, porque a partilha é o passaporte da felicidade.
Ninguém encontra a felicidade porque ela só existe nos momentos mais simples e quase imperceptíveis do instante, da mesma forma que ninguém encontra amigos através do dinheiro, se quiser a partilha genuína e simples da amizade. Felicidade e Amizade têm tudo em comum: são insusceptíveis de avaliação pecuniária, não se encontram aos pontapés, e requerem sensibilidade suficiente para as não banalizarmos.
Seize the day, carpe diem, parece-me continuar a ser a única maneira para que a vida seja em si alegria constante, porque sustentada no precioso valor de cada momento, que muitos por automatização ou incapacidade de ver beleza nas coisas simples e nos gestos amigos e simpáticos, continuarão a correr como baratas tontas para todo o lado e nenhum, julgando encontrar na correria rotineira, a plenitude da sua realização.