Porque precisamos de comemorar fora de casa os grandes eventos? A euforia de um campeonato de futebol, os santos populares, o ano novo, o nosso aniversário...? Porque estamos juntos! Porque comemorar fora de casa significa comemorar colectivamente. Porque instintivamente somos impelidos ao Outro, somos impelidos à comunhão. E não o fazemos sequer conscientemente, mas porque está inscrito na nossa consituição como seres humanos, que só somos com o Outro!
Este é o mês dos Santos Populares. Santo António já cá está, segue-se o São João no Porto, São Pedro em Sintra e, claro está, um arraial colectivo um pouco por todo o país. As Festas dos Santos Populares não são o Teatro Nacional de São Carlos, uma ópera, um concerto de música erudita, uma palestra literária ou um bailado russo. Também não são um concerto de música hard-rock, eléctrica ou uma rave. Podem ser, aqui e ali, um misto de canções populares com uma espécie de música de carnaval after hours, mas são diferentes. Também não é fado, que é do povo. É o outro lado do fado, é o lado alegre que o português não tem. Mas é também a Partilha.
"O meu bairro é liiiiiindo" não cheira a competição mas a partilha. "Viva Portugal" e "Gooooooooooooolo" quando marcamos, e os gestos eufóricos que vão dando literalmente cabo do coração a alguns, são pura catarse e partilha. Apitar, buzinar, cantar, meter-se com pessoas que normalmente não faria, faz de cada um o exemplo gritante da partilha.
Saímos de casa e partilhamos colectivamente momentos assim, porque não se trata de um filme que pessoalmente escolhemos ir ver, um livro que quisemos comprar, ou um concerto onde fomos. Saímos de casa porque a noção de pertença e de partilha estão intimamente ligadas, convocando do fundo de nós a saudável abertura de um abraço a um desconhecido, do canto em uníssono onde as pessoas natural e espontaneamente são, como um único coração na praça grande que são as ruas e a vida. A alegria e o sentimento de felicidade nasce aqui, não de momentos hilariantes ou comédias, não de ter saído o totoloto, mas do simples, do SIMPLES gesto de partilhar... É assim que a humanidade se humaniza... Na partilha! Ou ainda, como diz o adágio, "precisamos de mãe e de pai para nascer; são outras mãos que nos enterram"... Estamos todos (saudavelmente) comprometidos!