5.10.20

AUTENTICIDADE E SER



N
ão podemos valer pela forma. Um sorriso, se for artificial, não vale nada. Tem de abraçar por dentro, tem de ser genuíno, autêntico, porque verdadeiramente sente, e não aqueles sorrisos para ficar bem mas que não revelam autenticidade. Tudo o que escrevo é sentido, e muitas vezes vivido na primeira pessoa ou inspirado, quer em mim, quer em situações e pessoas concretas. Assumir as fragilidades, é assumir a condição humana de que não somos super homens, mas saber sorrir e brincar no meio dos problemas, é uma forma de não lhes aumentarmos a carga, e, tantos, quão dramáticos são. Mas enxugar as lágrimas com um sorriso é fonte de higiene mental ao invés da vitimização.

Escrever sem sentir é um mero exercício de escrita. Há quem o faça muito bem, independentemente de serem sentidos ou não, mas eu arranjo esta forma de exorcizar o meu próprio sofrimento. Até porque me empatizo com os simples, dos que não recriminam de tudo e todos, endeusando continuamente o ego. Gosto dos que choram, dos que riem, dos que se dão! Gosto dos que arriscam a vida e a alma, dos que perseguem sonhos e inventam utopias! E gosto dos que concretizam, dos que fazem, dos que se perdem sem ninguém! Dos errantes e anónimos, dos destituídos de poder e status, mas que têm um brilho interior que nenhum dinheiro pode comprar! Gosto de pessoas delicadas mas comprometidas com a justiça e a verdade! E das que são genuínas e intensas, e doces e alegres, mesmo que depressivas mas inteiras, que não fazem jogo nem aplaudem os grandes e ousam e recusam o blush social. Sou simples e são esses aqueles com quem mais me identifico, porque também é com eles que sou inteiramente eu e me dou, ao contrário dos que colocam uma vaidade encapotada num sorriso amarelo, ou não sabem apreciar o dom da simplicidade trocando-o pelo status social. Sem genuinidade e autenticidade, não somos nós, mas personagens ludibriadas pelo ego em constantes manifestações de vazio e de vaidade.