21.8.21

DO CULTO DO EU






 Nos tempos do culto do eu, da auto estima, do sucesso pessoal, o que sobra do amor?

Nos tempos em que o Outro é secundário, em que tudo deve girar à volta do bem estar pessoal, o que temos de verdadeiramente importante?

Que valores, afinal, nos guiam, que rumos tomamos como ilhas vaidosas em luzes de néon disfarçadas de amor?

Que restará de coisas simples como a simplicidade da entrega, a entreajuda, o amor desinteressado, a gratidão, os gestos simbólicos, as atitudes singelas, o agradecimento, a oferta e não o preço, o elogio e não a mera crítica, o enlevo, a preocupação pelo que não é apenas o ego, o abraço gratuito, a justiça em vez do populismo, a ética em vez da moda, a verdade em vez da realidade aumentada?

Nos tempos do culto do eu, da programação neurolinguística e do sucesso pessoal, torna-se ainda mais importante a capacidade da sageza e desse valor que reputo ainda mais importante do que a própria inteligência cognitiva: a lucidez, o discernimento e sensatez, a verdade e autenticidade, até para aferir da verdadeira importância das coisas e das pessoas, i.e., do verdadeiro significado do que é ser humano!

É muito fácil inebriarmo-nos com o mero bem estar pessoal, mas é sempre e só na relação com o Outro, na autêntica e não na encapotada em mentiras ou subterfúgios, que enganam simpatia e maldade, que o Homem verdadeiramente se faz, até com o sacrifício esporádico que, por amor, deixou de o ser.