12.8.21

DIA INTERNACIONAL DA JUVENTUDE

 


Hoje comemora-se o dia internacional da juventude, e dizia Camilo Castelo Branco que "crescer é tomar-se adulto sem se adulterar", e se não devemos ser ingénuos, usando as ferramentas que permitam sem malícia, mas com firmeza, corrigir o outro, a verdade é que, da mesma maneira, nunca devemos perder a inocência.

Quando crescemos a afagar o ego e confundimos sobranceria e arrogância com auto estima, adulterámo-nos em vez de amadurecer, da mesma maneira que cerceamos a liberdade de sermos nós mesmos, sempre que nos rendemos aos cânones estabelecidos de uma quotização intelectual, de um status com atitudes pomposas, de cortesias para criar simpatia que de genuíno pouco têm, ou ainda quando sufocamos a vontade de educada, mas livremente, dizermos o que pensamos, não como quem critica, mas como quem partilha ou contribui, e não como quem dá ouvidos ou entra na maledicência.
Adulteramo-nos quando aplaudimos os fortes só porque têm um valor social, e relegamos os que, imunes às críticas sociais ou ao parecer canónico das modas, se sujeitam apenas a si mesmos, nos valores da formação humana que é o que verdadeiramente interessa.
Ser jovem, independentemente da idade (até porque há jovens apáticos e adultos entusiastas), é saber ousar, arriscar o que em adulto parece mal ou não se faz, e confundindo tudo isto com classe social, perdemos a noção entre elegância e vulgaridade, porque elegante será sempre sermos nós na condição humana do abraço, e não o sorriso manipulado ou no cinismo da amizade encapotada ou do jogo social... O resto é infantilismo e vulgaridade.
Há uma diferença entre crescer e amadurecer. Já dizia Nietzsche "torna-te aquilo que és", e nós fazemos exactamente o caminho inverso.
Não há mal nenhum em chegar sem gravata a uma reunião de doutores, em comer um iogurte lambuzando os dedos, ou em preferir uma carrinha pão de forma a um Maserati para impressionar.
Em pedir uma torrada com manteiga em vez de impressionar com um brunch, ou sujar-se a brincar com um cão que sem nos conhecer nos pede festas.
Em chorar sem vergonha e em rir no meio da dor, não como quem a irreleva mas porque é demasiado forte para se aguentar, ou em ir descalço onde outros usam sapatos Armani.
A ideia de felicidade, com tudo o que implica de viver a paz no meio da luta, e de sorrir mesmo com cinzas na alma, está ligada à maturidade emocional, não necessariamente ao crescimento. E isso requer liberdade interior para podermos ser verdadeiramente nós...
E então, comemorando-se hoje o dia da juventude, quantos de nós já não envelhecemos por dentro, rendidos ao embrulho e não à essência, e se crescer é tornar-se adulto sem se adulterar, então quantos anões não há por aí...