7.8.21

DO SENTIDO DO DESCANSO

 


O descanso é imperativo para o corpo e para a mente. Estamos em período de férias, mas muitos fazem férias como se fosse uma interrupção da existência, tal como desejar bom fim de semana para só voltar a falar na segunda feira seguinte.

Fazer férias não é a desbunda hedonista, mas a descompressão, o retemperar das forças vitais, lembrando-nos que também somos alma, espírito, essência - que cada um entende à sua maneira - e, nesse descanso, reequilibrar e desintoxicar tudo o que empana a ausência de disponibilidade interior que nem sempre temos.
Se me pedissem para me definir, seria pela simplicidade. Esta, subentende também a humildade e a alegria, mesmo quando não vislumbramos caminhos e só apetece afiar o dente.
Simplicidade é estar de mãos abertas e alma receptiva, e não a devemos confundir com ingenuidade, mas requer inocência.
Estamos muito habituados a erguer camadas sobre camadas de defesas, mas sem entrega e sentido de humor, desumanizamo-nos.
Uma vida com o essencial, nunca começa pelas coisas, passa por elas como cores que nos alegram a existência, mas detém-se sempre no Encontro. É uma palavra muito importante. O Encontro. Connosco e com o Outro, igualmente cheio de tanta defesa.
É esse encontro que faz pulsar as fibras humanas que se vitalizam e engrandecem, porque soubemos que viver não é acumular coisas ou preencher a agenda, mas este descalçar do mero "eu social", numa partilha que cabe a cada um fazer e descobrir.
As férias deviam ser sempre uma belíssima oportunidade para retemperar forças, como quem massaja a alma, como quem vai nutrir-se de vida, ou quiçá espaço para reflexão de onde estou, por onde caminho, onde quero realmente ir, como me estou a comportar na vida, que juízo faço de mim e dos outros, e quão verdadeiro pode ou não ser esse juízo, ou se está enviesado.
Não devemos sujeitar à existência, o supérfluo, porque viver não pode ser artificial, mas a genuinidade de que se esperamos muito da vida, também ela espera de nós, porque é no balanço da justiça e da equidade, da amizade e da partilha, da simplicidade e do simplesmente ser, do júbilo de partilhar alegrias e da dor de a sentir, que verdadeiramente vivemos, mas precisamos de parar para aquilatar das nossas crenças e percepções, de ajustar o ritmo à realidade e não ao que julgamos ser, de oferecer o que também necessitamos....
Sem diálogo interior e autocrítica, julgar-nos-emos sempre inerrantes e infalíveis, e de juízo em juízo, perdemos a nossa própria humanidade...