28.12.21

APARÊNCIA E REALIDADE


 
Estamos em época de festas e aproxima-se o réveillon, mas para mim não contam tanto os dias festivos, mas antes os anónimos dias da semana. São tão mais importantes, porque são eles que forjam o resultado continuado.

As festas, encontros, jantares têm o seu lado lúdico e mais do que isso, mas esgotam-se aí. Como diz a canção: "Who's gonna drive you home?"
Não se nutre a serenidade, a magia, o manto da noite ou o encanto do mar ou das conversas em tom intimista como se revelassemos segredos ou desabafassemos naturalmente o que por vezes não tem a carga que julgamos ter...
Nada disto acontece em festas grupais. É nos dias de semana, nos momentos sós, nos dias comuns... A psicologia colectiva é outra e depois dos exageros lidimos, as pirotecnias humanas, os risos efusivos, o desbragamento saudável, continuamos sós!
A noite prepara o dia mas não recebe os agradecimentos. Mas o dia só mostra. Nada tem.
Da simplicidade nasce a alegria dos pequenos nadas. As coisas grandes são para todos; as pequenas são, de uma forma ou de outra, para os que nos são mais queridos...
E eu sou um amante dos dias comuns, dos pormenores, de olhar para os desnudos da vida tão sorridentes mas tão tristes, tão cheios de gente mas tão solitários, das pequenas atitudes, dos gestos simples, dos que estão vivos mas já morreram, de sentir o momento, parar o ritmo desenfreado para sentir o outro, sentir as situações e as coisas, ouvir as ondas, o passar dos carros, o vento que sopra, a chuva que acolhe...
A nossa presença, ainda que na ausência, um sorriso, um recanto de alma, um acolher da noite e da lua quando todos só adoram o sol, mas o silêncio fala e aduba, enquanto a solidão dói e mata.
A intimidade dos pormenores, dos gestos, dos dias esquecidos, das pessoas anónimas ou conhecidas, os comuns, enfim, dias da semana, fazem-me tanto mais sentido e identificação do que as festas estridentes, efusivas, onde, muitos, no fundo, estão a celebrar sós...