6.1.22

DIA DOS VERDADEIROS REIS

 


Terminam hoje, oficialmente, as festas. Era o dia de desmanchar a árvore e o presépio que se costumava montar dia 08 de Dezembro. Hoje faz-se mais cedo e desmonta-se mais tarde. Neste interlúdio houve elfos, pais natal e uma plêiade de personagens encantatórios mas que são só personagens. Olho sempre para o lado B da vida mesmo quando me estou a divertir. Penso sempre no que está por detrás da pessoa ou serviço prestado, no trabalho que houve para que, naquele momento, tudo estivesse a correr bem.

Uma vez cheguei de madrugada a um país, Sérvia, ainda escuro, e enquanto atravessavamos um jardim e alguns iam pré admirando a cidade a que chegaramos, eu detinha-me na senhora dos serviços de limpeza que apanhava o lixo e as folhas do chão antes que o sol se instalasse, exactamente como com este rapaz na cidade do natal em Algés que, por momentos, parecia querer admirar o recinto como se não fosse um trabalhador...
Temos um medo terrível de nos mostrarmos humanos, com as nossas fragilidades, mas não só é libertador, como pedagógico.
Todos usamos defesas, mas quando se tornam tão fortes que nos escudamos em seres que não somos, é um oxigénio artificial que respiramos, é uma outra vida que vivemos, e são muitas as fontes de desencanto e animia, de desconsolo e ansiedade, de frustração e dor.
Não se trata das defesas comuns para tapar fragilidades, mas daquelas que não nos permitem revelar a nossa própria condição. A ideia de sermos o super homem, quer com um riso constante onde nada nos parece afectar, quer massajando constantemente o ego e preferindo engolir a partilhar, corresponde à imagem adolescente da imortalidade e invencibilidade. De nada valemos se não formos pessoas autênticas. Mesmo nos aspectos mais desonrados. Precisamos de nos desconstruir para sermos em plenitude.
Tenho muito mais identificação e à vontade interior com os desnudos da vida, os feridos e os envergonhados, (não confundir com coitadinhos ou com os que se vitimizam ou com os que continuamente se lamentam numa espécie de reclamação ao contrário), do que com os fortalhaços sociais, até porque uma pessoa continuamente forte, segura e feliz, algures perdeu a noção de quem é, na imagem que forçadamente quer dar de si...
Só a humildade do despojamento do ego e do abraço de alma, nos solta a confissão de quem somos, em lágrimas que, talvez por isso, não precisaram de chorar...