5.2.22

NAS AREIAS DO TEU CANTO


nas areias do teu canto
encontrei o teu lamento.
perguntei-te porque choras,
porque sofres porque entregas
nas marcas da areia
borbulham teus pés sofridos
como anémonas delirantes
num mar acorrentado
deslize de algas
no corte cirúrgico de uma pedra,
e nos búzios sonoros
em limos traiçoeiros,
encontrei a resposta
ao teu sinal desaparecido.
foram-se os peixes da costa
e o sal do mar ondulado,
e nessas águas turvas
banhas teus olhos vazios.
Caminhas errante e devagar
como quem sorri com desencanto
abraçando o mundo e as pessoas
em ondas de um sentir que já não tens.
não estás em ti nem em ninguém.
calcorreias o areal imenso
que manda as algas
descansarem
teus pés sofridos
de um incessante caminhar,
e manda aos búzios que
limpem da areia as
conchas que te pudessem ferir.
persegues esse caminhar sem vida,
eivado de dor e desencanto
e nao desistes de sofrer,
de apanhar na alma as tempestades vulcânicas
do oceano profundo.

não sofres por amor.
é por amor que sofres.
e nos ditames da razão,
deixas que um esgar de alma
diga a todos os que
nao percebem em ti
essa intrépida insistência,
que só fazes caminho
se ele for genuíno,
mas que ainda nao encontraste
caminhos mais suaves.
quem te poderá pedir que páres,
que te ausentes dessa dor,
dessa entrega, desse amor?
respondes com o vento trágico
sobre as árvores que não derrubou,
e indicas o sol em cada amanhecer.
esse caminhar é intenso
e doloroso,
sem fim nem garantia
e sempre que ouves
risos de felicidade,
outra chama se apaga
num fogo que se acende,
em teimosas alegrias
de um dia por nascer...