2.3.22

4. FEIRA DE CINZAS

 


Hoje é 4.feira de Cinzas.

António Damásio, o neurologista e neurocientista português conhecido por obras como o "Erro de Descartes" e que lançou há dois anos outro livro "Sentir e Saber", trabalhando não só no estudo do cérebro mas, sobretudo, na implicação das emoções, mas também o celebrizado Daniel Goleman ou Carl Rogers, entre tantos outros, tratam precisamente de um tema onde Jesus Cristo é um belíssimo exemplo (a inteligência emocional), sabendo perceber a necessidade do Outro e de calçar os seus sapatos.
Há autores que escreveram precisamente sobre isso, como o psicoterapeuta Augusto Cury ("Análise e Inteligência de Cristo" ou "O Mestre da Sensibilidade") analisando a sua atitude perante os acontecimentos e, por isso, o próprio Cristo um mestre em inteligência emocional.
O tempo quaresmal que hoje se inicia ("lembra-te que és pó e ao pó hás-de voltar" e, por isso o nome de 4.feira de cinzas), e que culmina no Domingo de Páscoa, é vagamente conhecido por muitos.
Existe muita iliteracia religiosa, e a igreja é sempre falada como se se mantivesse na idade média. Este dia, reveste-se para os crentes de especial significado.
Cristo soube fazer a denúncia do achincalhamento da dignidade humana sem se render aos poderes instituídos, políticos e religiosos, embora também sem os desrespeitar.
Geraram-se grupos à sua volta que o apoiavam como o libertador de querelas políticas, mas Cristo sabia ler acima das minudências e manigâncias, e também do aproveitamento que dele tentavam fazer.
Diz que somos seres humanos com toque do divino, sem no entanto desrespeitar a hierarquia existente ou convidar à insurreição.
Mas não pactua: denuncia. E soube denunciar com frontalidade e coerência, ao ponto de perder amigos, como previra com a negação de Pedro ou a traição de Judas!
É um tempo de reflexão, a Quaresma que hoje começa, e precisamos de relembrar que os valores humanos não são modas efémeras.
Saber dar a vida por aquilo em que acreditamos, viver coerentemente independentemente do apreço ou gozo alheio, gerir as emoções como Cristo no Calvário, na Cruz e na trama política e religiosa que lhe montaram, mantendo a serenidade da paz no meio da luta, é um exemplo de que viver é algo mais do que estar vivo...
Perguntaram a várias crianças o que era o amor, e Max, uma criança de 5 anos, respondeu: "Deus poderia ter dito palavras mágicas para que os pregos caíssem do crucifixo, mas ele não disse isso. Isso é amor".