17.4.22

DOMINGO DE PÁSCOA

 


Finalmente a Páscoa. Deus fez-se Homem e ressuscitou.

Dizia o Manoel de Oliveira que
"a dúvida é uma maneira de ser"!
O facto é, que, só com ela, podemos ir mais longe, avançar na descoberta de mais e melhor, sem estagnarmos em certezas, afinal, tantas vezes fantasiosas, mas a dúvida em si não chega; precisamos de desbravar caminhos, e mesmo cometendo erros, aprender com eles e continuar, sobretudo dentro de nós, no conhecimento do que julgamos adquirido.
A dúvida serve para não nos instalarmos em atitudes autodesresponsabilizadoras, mas precisamos de trilhar caminho, mesmo com dúvidas, mesmo sem certezas da firmeza do solo.

Não bastam as intenções piedosas, ou o não fazermos mal a ninguém; é necessário agir, ainda que tantas vezes o silêncio possa ser uma forma de comunicação, mas pode igualmente ser um gesto prejudicial, quando não nos solidarizamos para sermos neutros.

Precisamos de estar atentos em não ficarmos tão arredados em considerandos, que não vivemos com receio de tudo, incluindo o de agir... A dúvida pode ser um meio, mas não passa disso, e muitos pecados são perdoados a quem muito ama!

Deus ressuscita pelo exemplo do Seu próprio Amor, mas também não nos pede o ar de queixume de quem não tem, nem nunca se vitimizou.

Aceitou corajosamente os escárnios, o gozo enquanto o apelidavam de rei usando uma coroa de espinhos, o aviso de que a Sua mensagem traria a sua morte, romanos e judeus que aqui se juntam numa trama política e religiosa, respectivamente, a dúvida dos próprios apóstolos, a agonia solitária no Monte das Oliveiras enquanto os amigos dormiam, a traição de Judas e a negação de Pedro, sendo que, mais tarde Judas se arrepende e sem já nada poder fazer se enforca, e Pedro que acaba por tomar o legado, e quando o põem na cruz para morrer, pede para o porem de pernas para o ar, porque se sentia indigno de morrer como o Mestre.

Sabem lá os outros das nossas noites de dor ou das nossas madrugadas de angústia, ou sequer se teremos um ombro onde reclinar a cabeça, e todavia muitos não nos queixamos, não lastimamos de forma pessoal as terríveis contrariedades que a vida nos dá...

É a aprendizagem silenciosa do sofrimento, não para o consentir, mas para o aceitar como factor de crescimento, porque só assim se amadurece.

Todos convivemos com problemas e solidões, mas devemos mitigar a carga com o contrabalanço da entrega, da palavra amiga, do desabafo, do desbloqueio emocional que também se faz pelas alegrias simples que o dia e o momento têm.

Esse é um dos problemas: esperar pelo dia, pelas férias, pelos anos, pela altura ideal... e, entretanto, a vida faz-se, e o tempo dilui-se sem esperança nem entrega nem amor...

Faz-se Páscoa na abertura ao Outro, na luta ao preconceito e ao medo do desconhecido, na capacidade de amar sem condições, e de interiorizarmos a máxima de Terêncio que dizia: "sou homem; nada do que é humano reputo alheio a mim"...

Foi isto que Cristo fez, tão despido de falsas certezas, de dedos acusadores, de ideias preconcebidas... E, quando com esta naturalidade e simplicidade, soubermos viver, estaremos a contribuir para que haja Páscoa à nossa volta, em todas as mortes e renascimentos que todos os acontecimentos nos hão-de proporcionar...

É desta Páscoa que vos desejo Boas Festas, com o sorriso e a entrega dos que, mais do que se queixarem do que não têm, partilham o que lhes falta...
Por isso, hoje
, sim, é o dia de dizer "uma Páscoa Feliz"
💎⚜️