20.3.23

DIA DA FELICIDADE


 
A felicidade, cujo dia internacional hoje se comemora, juntamente com o início da primavera, é aquilo que cada um concepcione ser, mas há alguns conceitos que precisam de ser desmontados, como quem atribui à riqueza a sua fonte.

Ter dinheiro, proporciona bem estar, conforto, prazer pessoal, imensa alegria, potencia a própria felicidade, mas não é a felicidade em si. Senão vejamos: uma pessoa deixada numa ilha paradisíaca com tudo ao seu dispor, depressa esgotava a sua verdade existencial se não houvesse a partilha, o sentimento de que é desejada, amada, apreciada, de que ela mesma pode contribuir para a felicidade alheia, pelo que é, e não pelo que tem.

Uma pessoa, que por. ex. tenha um índice de felicidade de 45, e que por força de algum euromilhões passe para 90, ao fim de algum tempo, tende a voltar ao 45.

Sim, houve um pico no bem estar, no poder fazer tudo o que o dinheiro pode comprar, mas isso passa, porque a felicidade é insusceptível de avaliação pecuniária.

O dinheiro não compra o Amor, os Amigos de Verdade, a Saúde.

O dinheiro é uma necessidade inequívoca que contribui para nos sentirmos bem, sem apertos financeiros, o que nos alivia imenso e provoca um estado de desafogo e alegria;

é necessário para garantir as nossas necessidades básicas e os caprichos a quem o pode, porque não...?!

o dinheiro faz falta pelos mais diversos motivos, e por isso tem uma importância incontornável, potenciando, como digo, a própria felicidade, mas não pode substituí-la.

Porque a Felicidade somos nós que a fazemos pela atitude que tomamos (como estar agradecido pelo que se tem, sem se querer sempre mais e mais, qual criança que vai passando de brinquedo em brinquedo, porque cada um dos outros já não a satisfaz).

É sentir que caminham connosco, que somos compreendidos e desejados, que nos tornamos solidários com pessoas e causas.

É afagar um gato, receber as lambidelas de um cão que nos ama e, é feliz só por isso;

é sermos livres para não nos deixarmos levar pela maledicência e filtros sociais ou jogos escondidos;


é não ter medo de não ter esses mesmos filtros sociais, precisamente porque somos interiormente livres (o que requer coragem e liberdade...)...

É sermos simples e genuínos, aceitando tudo, excepto o que colida com valores universais de transparência, diferentes formas de amar (a Amizade, o Amor fraterno e o romântico, o simples Amor), bem como o sentido de justiça, independentemente de ser ou não connosco, porque o silêncio perante a maldade, é apenas outra forma de a não impedir...

É ser abraçado, ter o coração a palpitar, ver o mar e a lua, o nascer do sol, secar uma lágrima, entenderem a nossa, rirmos desbragadamente inocentes sem clichés sociais do politicamente correcto, fazer caminho com pessoas inteiras, ter saúde, partilhar, ouvir a noite, oferecer e receber um sorriso, pugnar pelos que necessitam de atenção e não pelos que a ostentam, sermos compreendidos, aceites, valorizados, livres...

É sempre nas coisas simples que se encontra a felicidade, e, sobretudo, na relação com o Outro.

E não se é feliz todos os dias, e por vezes parecemos amorfos, depressivos, tristes, nostálgicos, insatisfeitos, mas é próprio do ser humano não ser perfeito, pelo que, quem disser que o é, apenas está a mentir a si próprio...

E não se ser feliz todos os dias, como se houvesse um contínuo impacto de felicidade, é também sinal de uma mente saudável, já que, é tantas vezes ela, que nos gera sensações que não reconhecemos bem ou nem as sabemos ler e, por isso, nos provoca uma espécie de melancolia, sendo que a própria tristeza é uma tensão de equilíbrio.

É, aliás, também, por isso, que devemos estar continuamente atentos àquilo que sentimos, porque essas tensões de equilíbrio, essas emoções, surgem, precisamente, para nos alertar para a toxicidade de outras.

Tudo o resto é importante, mas acessório a que possamos dizer com propriedade que somos felizes, porque sem o Amor nas suas diversas vertentes, o mero hedonismo é um diamante reluzente perdido no deserto, mas ofuscado pelo sol que verdadeiramente brilha, sem precisar do uso nem do esplendor do diamante.

Como alguém que comprasse os maiores luxos, casas palacianas, carros topo de gama, mas que, depois, não tivesse com quem partilhar...

A partilha, é, ela mesma, um sintoma de felicidade, porque se faz sempre gratuitamente, e nunca as coisas estarão à altura de nos completar, se houver esse vazio humano.

Só o Amor, o que recebemos e damos gratuitamente, nos liberta e dá razão à existência...