18.5.23

DIA INTERNACIONAL CONTRA A HOMOFOBIA

 


Jakub Jankto, internacional checo jogador do Sparta de Praga, assumiu a sua homossexualidade num vídeo nas redes sociais, partilhado também pelo clube que representa.

“Como toda a gente, tenho as minhas forças e as minhas fraquezas. Tenho família e amigos. Tenho o meu trabalho, que faço o melhor que posso, há anos, com seriedade, profissionalismo e paixão. Como qualquer pessoa, também quero viver em liberdade, sem medos, sem proconceito, sem violência. Apenas amor“.

Outras duas figuras relevantes na cena internacional que não o desporto, também assumiram recentemente que o são. Tomei apenas este exemplo.

Vem isto a propósito de o Parlamento Europeu e a ONU, terem declarado o dia 17 de Maio como Dia Internacional contra a Homofobia.

Ora, o preconceito, é uma defesa ignorante contra o que não conhecemos. É muito claro, que uma pessoa homossexual, difere de uma heterossexual, apenas no género do objecto do desejo.

A homossexualidade é um fenómeno de natureza tão biológica quanto a heterossexualidade, isto sem dizer que a sexualidade dos outros não é da nossa conta, tal como não é nada que só ao outro diga respeito, ou será uma intrusão e uma violação do respeito por cada um, seja solteiro, divorciado, cigano, de cor, mãe solteira, gótico....ou homossexual.

Ostracizar uma pessoa homossexual, homem ou mulher, é o mesmo que culpar alguém por ter um metro e oitenta, ou gostar do azul em vez do amarelo.

Aliás, um adulto que faz reparos ou outras manifestações homofóbicas, provavelmente não fez a transição para a idade adulta, e, eventualmente, poder-se-á ver nisso, um sentido frágil da sua masculinidade ou da própria sexualidade.

Os falsos moralismos e a incapacidade do aceitação do diferente, são obstáculos às pessoas homossexuais (não a sua homossexualidade), acabando por se verem impedidas de se realizarem afectivamente, hipotecando o Amor e, com ele, a capacidade de uma vida livre e feliz, o que é um absurdo, não apenas porque é, então, a sociedade que permite ou não a felicidade - sendo que a sociedade é a soma de cada um de nós e, por isso, cada um deve fazer a sua parte-, como porque o amor não tem sexo.

Somos fruto de uma cultura, mas também vítimas dela. Há que aceitar as diferenças, e de as pessoas viverem os afectos e a sexualidade na sua perspectiva psicodinâmica, e não apenas até onde as deixamos, sendo que, muito importante, não podemos restringir a sexualidade à genitalidade, e com isso não lhe perceber toda a sua linguagem e realização afectiva.


Na realidade, existe um estigma fortíssimo, directo ou omisso, contra quem não segue a suposta hetero normatividade.
O problema não reside na diferença, mas na rejeição à sua aceitação e, confundindo isto, arranjamos um silogismo social e cultural, que leva, no extremo, à pena de morte em determinados regimes, a sanções várias, ao bullying e à exclusão social.

Sempre que somos preconceituosos seja em relação ao que for, estamos a ser ignorantes da própria condição humana, uma vez que não percebemos conceitos básicos de respeito pelo Outro, entrando em caminhos medievais de despotismo pessoal, escudado no brilhante argumento da suposta normalidade.

Poderá um peixe dar uma volta pelos céus ou um pássaro viver debaixo de água? Se ambos não entenderem que a sua diversidade é, também, a sua identidade e razão de estar ali, que é a sua normalidade, vão passar a vida a tentar voar ou mergulhar, numa tentativa suicida de denegação existencial. E tantos são os que o fazem, precisamente pelas atitudes de marginalização e discriminação, individuais e colectivas, sem falar nos que têm uma imensa dificuldade em aceitar o que são...

E não se trata apenas de "tolerar" um comportamento; é muitíssimo mais do que isso. Porque para as pessoas amputadas à sua própria realização, pessoal e amorosa por meros interditos sociais, é, além de uma desinteligência colectiva, um drama para os próprios, como se amar fosse crime.

Que fique claro que não se trata de tolerar o Outro, ainda menos ser opinativo, sob pena de invasão do direito à vida privada, coacção social e discriminação.

Não escolhemos os pais, os colegas de escola, a condição física, como não escolhemos o género, a cor da pele, a raça ou a orientação sexual, tornando-se, precisamente por isso, um absurdo maior, rejeitar as diferenças do e no Outro; antes, devemos aceitá-lo, tal como acabámos por aceitar pessoas que antes tinhamos como escravos por não terem dignidade de seres humanos (juridicamente, os escravos eram coisas, podiam ser transaccionados e não eram entendidos como pessoas, não podiam ter vontade própria), ou que, sendo de raça diferente, deviam ser toleradas na comunidade.

E, no mundo dos afectos, não existe bitola, regra, lei, norma, jurisprudência ou mandamento que diga como é. É como cada um sente, na liberdade de ser ele mesmo, o Outro, aquele a quem devemos vénia numa reciprocidade respeitosa de quem comunga a sua própria humanidade.

O senso comum, é o pior inimigo que conheço, e, é assim que estamos em pleno séc. XXI: com a Internet numa mão, e a pedra lascada da ignorância noutra!