20.3.25

O QUE É, AFINAL, A FELICIDADE? (DIA INTERNACIONAL DA)


O que é a felicidade? Comemora-se hoje o seu dia, mas o que é, afinal, a felicidade?


Cada um poderá ter para si um conceito mais ou menos difuso, mas há alguns conceitos que precisam de ser desmontados, sob pena de auto viés. O dinheiro, por exemplo. Proporciona bem estar, conforto, prazer pessoal, potencia a própria felicidade, mas não é a felicidade em si.

O poder, fama, sucesso. Mantém o ego nas alturas, proporciona um sensação de omnipotência, potencia (ou tem esse potencial) a própria felicidade, mas não é a felicidade em si.

Senão vejamos: uma pessoa deixada numa ilha paradisíaca com tudo ao seu dispor, depressa esgotava a sua verdade existencial. Porquê? Porque está na nossa própria inscrição genética, que o Homem é um ser relacional.

O dinheiro (de tão necessário que é, mas que apenas o refiro na ótica do seu peso naquilo que verdadeiramente torna uma pessoa feliz), não compra o Amor, os Amigos de Verdade, a Saúde ou o Tempo.

Tal como não compra os valores universais dos imperativos éticos. É, aliás, por isso, que também o dinheiro não evita a injustiça, a incompreensão, o desamor e a desestruturação como pessoa.

Porque o dinheiro, o sucesso, poder, fama, potenciam o sentimento de felicidade, mas não a substituem. É uma das mais perfeitas ilusões. Mas se formos felizes, o dinheiro abrilhanta a própria felicidade. Porém, o contrário não acontece.

É que a Felicidade vem de dentro, e é totalmente insuscetível de avaliação pecuniária. É sentir que caminham connosco, que somos compreendidos e amados, que somos apreciados.

Então e agora que faço com todo este dinheiro, suposta fonte de felicidade, se não tiver quem me ame nas diversas vertentes do Amor (universal, de amizade, fraternal, romântico...)!?

A suposta felicidade oriunda dos bens materiais, é igual à de um náufrago sobrevivente de um luxuoso cruzeiro numa ilha deserta e perdida, com tudo ao seu dispor. O próprio sentido de auto preservação seria corrompido. Tal como tantas vezes acontece por falta de significado na vida.

E não há significado que não esteja intimamente ligado à nossa necessidade relacional. É sempre nas coisas simples e na relação com o Outro, que a Felicidade desponta.

E não se é feliz todos os dias, mas não por não termos amor.

É, aliás, também, por isso, que devemos estar continuamente atentos àquilo que sentimos, porque essas tensões de equilíbrio, essas emoções, surgem, precisamente, para nos alertar para a toxicidade de outras.

Tudo o resto é importante, mas acessório a que possamos dizer com propriedade que somos Felizes. Porque sem Amor, o Homem nunca se realiza, nem que seja ajudando o outro, porque existe recompensa instantânea.

O dinheiro brilha, tenta e confunde. Mas não cura um coração ferido. Não se compadece da mais profunda dor. Não traz de volta quem nos perdeu ou quem perdemos. Só o Amor.

Sim, o dinheiro é uma das mais perfeitas ilusões, já o disse, de tão reluzente! Mas só até ser ofuscado pelo sol. Aí percebemos o que verdadeiramente brilha.

E, é este sol que confundimos com a luz artificial das coisas, que nos faz bater o coração e acordar todos os dias com um propósito. É ele que nos dá o verdadeiro sentimento de felicidade. Voltamos ao exemplo do náufrago com tudo ao seu dispor e, porém...

Tal como alguém com os maiores luxos, casas palacianas, infindos bens materiais, mas sem ninguém que o ame pelo que é.

Só por amor conseguimos aliviar o peso de um coração triste. Só por amor conseguimos aliviar a fome de um mendigo que verdadeiramente a tem, ou tornar menos pesada a cruz dos que, habituados à dor, já nem se queixam ou estendem a mão.

Só por amor somos resgatados de uma existência fúnebre, doentia, como quem foi traído nos alicerces que nos trazem vivos.

Só pelo amor dos outros suportamos a doença, a injustiça, a maldade, a inveja. As lágrimas de quem nos partiu como que levando um pedaço de nós.

Só o amor extingue a solidão. Um coração que sangra, uma depressão que se instalou.

A felicidade existe ao ver o Bosquinho tão confortável no seu dormitar, que passou a ser minha. Existe, quando, no hospital, recebemos a notícia de que já podemos ir para casa. Ou de que, quem fomos visitar, continuará vivo e não morrerá, como pelo seu quadro se julgava.

A felicidade existe, sempre que amamos e somos amados. Tudo, literalmente tudo, incluindo os bens materiais e a capacidade financeira que nos abrilhanta a vida, vem sempre depois do Amor.

É aí que reside a Felicidade.

Porque só o Amor dá razão à existência! 

16.3.25

ISTO NÃO É POLITICA








A política nunca me moveu. As raras vezes em que opino, é por uma questão de se ter tornado uma situação tão absurda, surreal ou desconcertante, que, invariavelmente concluo que, raramente, a culpa é dos políticos, mas da bomba atómica tão mal e vulgarmente usada pelo iluminado néscio povo, e que é o voto popular!

Basta olhar para Trump (não os Estados Unidos que ele ainda não representa, e que, felizmente, não são nada do que vemos, assim venha um Obama libertar a nação)!
No mínimo, há que ter, ainda, esperança, mesmo com um mundo já com alterações substanciais no terreno.

É difícil, depois de tantos iluminados terem dado, de novo - e após uma tentativa de reposição da liberdade democrática com todos os seus defeitos, mas livre, com Joe Biden -, outra vitória ao inominável autocrático Trump.

Dito isto, que o meu sentido de justiça e objetividade (não neutralidade), sempre se auto impôs em detrimento das próprias amizades, se necessário, e até de pessoas hierarquicamente superiores a mim, a quem devo lealdade ou arriscar aquilo que é, objetivamente justo... (**)

...é-me gratificante, no meio dos urros da populaça que em massa vão pela rama das coisas, ou ideologicamente cegas e, por isso, sem nunca conseguirem atualizar as suas decisões, aconteça o que acontecer, partilhar dois pequenos extratos de entrevista, onde um partidário do PSD e outro do PS, conseguem a rara objetividade.

Irmos para eleições pela terceira vez, num espaço de tempo ridiculamente curto, é uma das maiores pirrónicas teimosias de qualquer partido na oposição, desde que Portugal é uma democracia.

Uma birra infantil por dá-me o chocolate, que contribuiu para a queda vergonhosa, na forma e no conteúdo, deste governo de minoria, apenas eleito há um ano e, durante o qual, não obstante nada ser perfeito, estava a realizar um trabalho mais do que razoável, considerando o momento porque passamos, e o facto de ser uma minoria.

Pronunciando-se sobre a situação, os atuais comentadores políticos, na generalidade, legitimam o PS tentando fortemente convencer quem não vê para além do seu umbigo, que estamos nisto graças ao governo e, em particular, a Luís Montenegro cidadão (que, por acaso, ocupa o lugar prestes a deixá-lo oficialmente, de Primeiro-ministro). Lá vamos gastar milhões porque sim.

Mas vemos aqui, dois exemplos raros de quem sabe ser intelectualmente sério, na apreciação dos factos e de todo o enredo em que isto se tornou.

Pelo PS, não temos apenas mais um a tentar colar culpas objetivamente superficiais ao governo agora dissolvido.

Sérgio Sousa Pinto tem pensamento próprio, e encara tudo isto que, infelizmente, se passou, como um lavar de roupa suja, exaltando-se se poderiam ou não falar de política, já que, era por isso que ele estava ali.

Ou seja, percebeu, ab initio, que a sua interlocutora, defendendo o mesmo partido dele, não tinha, porém, capacidade objetiva pessoal e séria, de não sucumbir a tudo o que, no dizer do seu colega socialista, é "pôr a roupa na máquina", perguntando exaltado, à condutora da entrevista, se podiam falar de política, ou seja, agora que temos um facto triste e revoltantemente confirmado, o que se seguirá politicamente?

Porque são esses, para si, os cenários que importam discutir.
Esteve Sérgio Sousa Pinto amarrado à ideologia política que perfilha, quais apoiantes de Sócrates e António Costa, - tal como comentadores a imitar o que de pior já o povo faz tão bem - e, para quem, ambos foram um exemplo de governação, dado que a cruzinha não saiu do seu lugar?

Não, Sérgio Sousa Pinto soube separar as águas. Porque não deixou um milímetro de ser socialista. O que não o impede de ser crítico. Pelo PSD, temos Miguel Monteiro, ou seja, Sérgio Sousa Pinto em versão social democrata. Tal, também não o impediu (apesar de frontal e factualmente lembrar a realidade das coisas, gostemos ou não, por não serem opinativas), de criticar o PSD, a forma como o próprio governo se deixou infetar na manhosa ratoeira do PS, chegando este a sugerir que apresentasse uma moção de confiança, se se sentia tão certo e seguro de si.

Infelizmente, na escalada acusatória e defensiva dos dois maiores partidos, acabou mesmo por levar o governo a apresentar a tal moção de confiança, depois de duas ridículas moções de censura pelo Chega e PCP, e nem trago, sequer, à colação, a CPI do PS.

Ou, seja, sem deixar de opinar (ao contrário do que fez Sérgio Sousa Pinto, focando-se naquilo que, agora, é importante, e não a lama do que ficou - posição que subscrevo), lembrando quão frágeis são os telhados de vidro do PS (dado ser graças a este que o governo ficava ou caía), e de como nada disto, alguma vez, seria um caso político, dramaticamente acusatório e alimentado por birra e espiral destrutiva e egóica, por puro aproveitamento partidário socialista, se fosse Pedro Nuno Santos, o justo Sócrates ou o dissimulado inocente António Costa, a estarem no lugar de Luís Montenegro.

Mas, e aqui reside a diferença, faz fortes críticas ao que entendeu dizer do PSD, o partido que milita, naquilo que é a minha bitola pessoal, ou seja, olhemos os factos; retiremos as preferências pessoais por mais enraizadas, punhamo-nos, aí sim, no papel de um juiz que fosse chamado a dirimir esta mexicana novelesca situação e, apenas assim, teria conseguido, com seriedade, ajuizar do que lhe fora pedido.

Pessoalmente, acho tão degradante a maneira como se faz hoje política em Portugal que, não foi por acaso que escrevi há uns dias, não sobre a atual administração norte-americana, mas como foi possível voltar a legitimar uma criatura com um ego tão patológico e doentio, que só encontra par nos regimes ditatoriais.

Basta lembrar o "Animal Farm" de George Owerll, - traduzido como "A Quinta dos Porcos", e que até já foi leitura obrigatória na disciplina de Inglês do 12° ano -, onde, de palavrinha mansa em palavrinha mansa, todos os animais acabam seus escravos, de tão candidamente acreditarem na "diplomática lábia" dos porcos, originando, a conhecida epítome de que "todos os animais são iguais, mas uns são mais iguais do que outros".

_________________
(**) Sem que dependa de interpretações pessoais, segundo cada interesse, dado ser factual (o heliocentrismo não é uma teoria, mas um facto cientificamente comprovado que terminou com a "evidente" observação de que era o Sol a girar à volta da Terra, e não o seu contrário, por mais negacionistas que existam no mundo, tal como o fazem com a alunagem, ou com o Covid).

13.3.25

12 ANOS DE PONTIFICADO


"Estou muito contente com a minha renúncia, porque Deus preparou, depois de mim, um fenómeno" disse o Papa Bento XVI sobre o seu sucessor, o Papa Francisco, sobre quem passam hoje doze anos sobre o seu pontificado!

E é, de facto, um fenómeno. Um fenómeno do que é ser-se Pessoa, e não apenas um conjunto de nervos, ossos e tendões.

Do que é ser-se Humano.
Na sua força e resiliência.
Na sua luta e sofrimento.

Com toda a vulnerabilidade que caracteriza a coragem da condição humana, em não a esconder em comportamentos e palavras que apenas traem quem o faz.

Um fenómeno de serviço e de entrega.
De humildade.
De um verdadeiro representante de Cristo.

Um fenómeno que atesta, não só pela fé, mas pelas diárias dificuldades com que continuamente é ferido, acossado, vilipendiado, por quem nele vê aquilo em que não acredita.


E, por isso, o tentam continuamente humilhar e encontrar algo que o desminta, com a vil certeza do que os factos negam.

Um fenómeno de força e paz.
De serenidade na maior provação comunitária e pessoal.

Só um espírito inabalável, só uma construção diária com gestos efetivos e não apenas palavras, podem colocar o Papa, neste caminho onde chove.


Ainda ainda assim, avança sozinho pela praça, carregando a noção da finitude humana, da vaidade dos homens, da soberba dos mais vis.

Este é o fenómeno de que falava o seu antecessor, Bento XVI.

Um fenómeno de quem tem uma extraordinária noção do que é, verdadeiramente, ser-se Pessoa.

E, tudo isto, a ausência da ilusória omnipotência ainda que em forma de arrogância, desprezo ou vaidade, que na sua maioria o mundo faz, advém-lhe, precisamente, pelo mesmo motivo do testemunho de Cristo, que na sua vida pública e Calvário, soube sempre manter a presença de espírito, a inteligência emocional, mesmo já na cruz.

Em ambos, a força nunca esteve ou está, nas crenças pessoais dos tantas vezes falaciosos pensamentos, que quase sempre vemos como a indefetível verdade.

A força esteve e sempre estará na capacidade de entender, para além do visível, para além da maledicência do ruído acrítico, que só a humildade pode suportar a fim de a converter em força, pujante e de vida, que não é visível senão pela sensibilidade de entender as ações.


Aqui chegados, com facilidade se conclui e infirmam as palavras de um grande doutor da igreja, Santo Agostinho, quando diz:

"Ama...e faz o que quiseres"!

É porque, só quem verdadeiramente conhece o Amor, o despojamento e a entrega, pode ser verdadeiramente livre.

E, só quem é verdadeiramente livre,pode quebrar as regras...

Parabéns, Papa Francisco!
⚜️

8.3.25

DIA DA MULHER


A foto superior esquerda e razão do dia de hoje, é a poesia e o romantismo que se celebra como sendo o Dia da Mulher. Uma foto assim.

Foi no dia 8 de Março de 1857, que as operárias de uma fábrica de tecidos, em Nova Iorque, fizeram uma grande greve e ocuparam a fábrica ao reivindicarem melhores condições de trabalho, nomeadamente a equiparação de salários com os homens.

E a manifestação foi reprimida com tal violência, que as trancaram dentro da fábrica, posteriormente incendiada, tendo morrido cerca de 130 tecelãs carbonizadas. Mas podia ter sido apenas uma que o drama não diminuía.

É esta a poesia que hoje celebramos. E, em 1975, a data é oficializada pela ONU, precisamente como homenagem a estas Mulheres e à sua Luta, estendendo-a a todas as mulheres.

Só que, tecnicamente, não devia existir este dia, uma vez que a igualdade é intrínseca ao género humano, seja em razão de cor da pele, raça, confissão religiosa, condição social, orientação sexual, etc.

Aliás, não é só o Dia da Mulher que, pelos motivos expostos, tecnicamente não devia existir, mas também tantos outros "dias de", onde também houve dramáticas histórias para, depois o celebrarmos, homenageando uma vitória ganha com sangue.

Mas, repito, é um lapso, já que a mulher vale pelo que é, e não por lhe ser dedicado um dia, reduzindo-a a uma espécie de minoria, como se não merecesse de per si, o estatuto que supostamente só o homem tem, como se houvesse uma casta humana, fruto da fabricação de preconceitos.

O que pretendo dizer, é que o simples facto de existir este dia, é porque ele existe por comparação, i.e., não pelo simples facto de serem mulheres!

(Acrescentem-se os outros "dias de ", como contra o racismo e xenofobia, homofobia, discriminação de pessoas com deficiência física ou psíquica, doentes, sós, divorciados ou solteiros, crianças, trabalhadores com funções socialmente desprezadas, emigrantes... a lista é infindável).



Este dia da Mulher, existe como uma espécie de quotas de paridade no parlamento ou em empresas. Existe como alguém de quem nos devemos lembrar de valorar, pelo menos neste dia, e é isso que é tecnicamente mau, não a instituição deste dia, por paradoxal que pareça!
Existir, por exemplo, o dia do homem, seria dizer que teria de lutar para ser Pessoa. O mesmo aqui. Ora, a dignidade da pessoa humana, tal como o Amor, não tem sexo.

É, de resto, lapidar, esta frase de Simone de Beauvoir:
"Não se nasce mulher! Torna-se!".

Porque nem todas as mulheres são senhoras, caindo em extremismos de afirmação, ou em altivez de condição social ou mera soberba intelectual.

Mas estas, as mulheres que também são senhoras, possuem a "força do sofrimento" para suprir o que falta, e a tudo acudir por piedade ou compaixão, não por obrigação da sua condição de género.

Esta dupla qualidade, não é qualquer pessoa que a tem! Tem-na, quem possui a inteligência do coração, e a bravura da alma, numa firmeza simples de Ser e de se dar como pessoa.

E para não ser treslido, o que pretendo, afinal, dizer, com isso de senhora?

O que, de facto, pretendo dizer, com este qualificativo de senhora, antes que alguma feminista, - por natureza pessoa extremista e não raras vezes de um desdém e falta de formação execráveis -, ressalvando, obviamente, as que com seriedade dignificam o papel da Mulher, sem estes dentes afiados contra tudo e todos, num comportamento totalmente assimétrico, cínico e incongruente, além de ruidoso -, encontre aqui putativas condições favoráveis ao seu próprio veneno.


Quero dizer, tão só, isto: são aquelas pessoas, que tendo enterrado as mãos na terra, não deixam, por isso, de acolher com o perfume do amor, e a suavidade da generosidade, aquilo que o próprio Homem e a vida, lhes esbofeteiam, deixando-as nas cinzas do abandono, discriminação e solidão.

Que choram, lutam, sofrem, sem que nada ou ninguém pareça fazer jus a uma tal luta interior, que quase parece tão natural uma força humana
assim. E, porém, a revolta não se instaura no seu espírito de forma definitiva, nem o desprezo ou a generalização do que lhe acontece.

Sabe vestir-se com o dom da oblação e da partilha, da sensualidade e rectidão de sentimentos, de agradecimento a si mesma, à vida e a quem sabe que lhe quer bem.

Sabe dançar e pisar o tapete vermelho das suas próprias glórias, sem que, por isso, cobre nada do que faz, ou sequer ostente o seu dorido troféu.

E, isto, numa espécie de atitude de natural resiliência, mas que as mulheres, as mulherzinhas que não saem de gritos e combates estéreis, nem sequer conseguem entrever.

Mulherzinhas também, porque tanta vez mais reivindicativas, do que efetivamente lutadoras na sua própria vida pessoal, que consideram um exclusivo onde só legitimam o que querem.

Há sempre Trumps no meio de Bidens ou Obamas, falando na generalidade.

Não conhecem, nem sabem, o que é a elegância de uma Senhora, que tendo posto as mãos na terra e na lama das adversidades, e mesmo injustiçada nos pântanos sociais, tantas vezes travestidos em falácias, não deixa, por isso de ser uma Senhora! É isso que lhe dá autoridade: não o contínuo vociferar em estéril ruído.

Sem querer particularizar, e apenas porque acaba de me assomar à mente, escrevi a propósito de minha Mãe, pelo seu dia de anos ou dia da Mãe, que era, simultaneamente, tanto uma flor delicada, uma frágil pétala na sensibilidade, quanto um cato do deserto.

Porque enquanto cato, aprendendo a sobreviver às piores secas, numa bravura a que chamamos resiliência, e escondendo nos aparentes picos afiados, a pétala que também era.


Mas a vida não se padece de contemplações, e, por isso, essa dualidade de luta/fruição numa espécie de saudável bipolaridade na vida, nem sempre é perceptível, quer, por outras mulheres, quer, por vezes, ainda menos pelos homens.

Sempre foi, a minha Mãe, um exemplo do que digo. Uma enorme grandiosidade de espírito, da qual não se parecia dar conta, num impressivo exemplo de Mulher-Senhora.

Nomeadamente a sua bonomia, generosidade, empatia, simpatia, acolhimento, sem que deixasse de ter o currículo do sofrimento da condição humana, quantas vezes auto superando-se, não efusivamente, mas com a tristeza solitária pelo que de adverso lhe cabia.

E, ainda assim, sem nunca se comparar ou invejar com quem quer que fosse, porque a responsabilidade é sempre individual na condução da nossa vida.

E, é esta inteligência do coração, é esta inteligência emocional que parece inata a determinado calibre de pessoas, que sumaria bem a polivalência da mulher, talvez porque ao contrário dos homens, se preocupem menos nos considerandos e egos, e mais com o pragmatismo e os afectos.
De resto, só por isso, já são uma lição para tantos homens...

5.3.25

LEMBRA-TE QUE ÉS PÓ...

 

Hoje é 4.feira de Cinzas. A História da Humanidade, tem tanto de heroísmo como de cobardia. Certo é que serpenteamos entre a ética e a coisificação; entre o amor e o poder.
E, porém, como no tempo quaresmal que hoje se inicia, "lembra-te que és pó e ao pó hás-de voltar!"
Absurdamente, porém, assistimos a um dos piores períodos da História da Humanidade! A guerra já começou há três anos, pelo ocioso motivo de querer invadir a casa do vizinho, tornando-a sua, não se coibindo de chacinar quem lá se encontre, mesmo recebendo a legítima oposição!
Cristo soube fazer a denúncia do achincalhamento da dignidade humana, sem se render aos poderes instituídos, políticos e religiosos embora também sem os desrespeitar ou convidar à insurreição.
Mas não pactua: denuncia. E fê-lo com frontalidade e coerência, ao ponto de perder amigos, como previra com a negação de Pedro ou a traição de Judas!
Zelensky faz-me lembrar, salvaguardadas as diferenças, o próprio Cristo, e também, numa escala macro, a negação de países europeus na ajuda da sangrenta batalha ab initio, ou a infame traição, não dos Estados Unidos, mas de um ominoso Trump e sua administração, que não representam o que tem sido esse país.
Mas há mais nesta Quarta Feira de Cinzas, em que o sacerdote coloca na testa dos cristãos, cinzas feitas das palmeiras do Domingo de Ramos do ano anterior, ou seja, de quando Cristo é aplaudido como o Messias, recebido como o grande libertador político!
Vladimir Zelensky tem sido de um estoicismo, de uma bravura, de uma resiliência, desde o primeiríssimo minuto, que evoca Cristo como um mestre de Inteligência Emocional.

António Damásio, que fez anos há cerca de uma semana, neurologista e neurocientista português conhecido por obras como o "Erro de Descartes" e tantos outros, trabalha no estudo não só do cérebro mas, sobretudo, das emoções.
Cristo é um belíssimo exemplo de inteligência emocional, sabendo perceber a necessidade do outro e de calçar os seus sapatos.
Zelensky ou qualquer homem na sua posição e com a sua postura, faz precisamente aquilo de que trata a Inteligência Emocional. Como lidar com as suas emoções e com as dos outros? Muitos outros. Diferentes outros. Ao ponto de ter de negociar uma invasão?
Em que absurdo vivemos, para, sequer, imaginar a presente situação mundial?
Não é, porém, muito difícil, saber porque entrámos nesta distopia de territórios invadidos, como também em Gaza, e de traições e indiferenças!
Trump chegou a publicar um vídeo de IA há exactamente uma semana, que, pessoalmente, nem aqui quis reproduzir. Nesse vídeo, a Faixa de Gaza aparece transformada num resort de luxo.
Vêem-se figuras do próprio Donald Trump em estátuas de ouro e souvenirs, bem como de Elon Musk ou Benjamin Netanyahu, a celebrarem ostensivamente uma suposta “libertação” daquele enclave palestiniano, onde já morreram mais de 47 mil pessoas, vítimas da guerra de Israel contra o Hamas.
E ali estão as imagens egoicamente autistas de praias paradisíacas, iates luxuosos, arranha-céus modernos, e Elon Musk, não só multimilionário, dono do X e da Tesla, mas também Conselheiro da Casa Branca, surge várias vezes a lançar notas de dinheiro ao ar, e o primeiro-ministro israelita aparece de fato de banho, ao lado de Trump, a beber cocktails junto a uma piscina.
É assim, devagarinho, sem nos importarmos com o fogo que arde, que vamos legitimando e normalizando com o tempo, aquilo que corrompe a natureza humana em toda a sua bondade e humanidade.
Porque um gesto egoísta em cada quadrado pessoal da existência humana, pode parecer inócuo, isolado, sem cuidarmos, sequer, se não é já uma metástase de outros que assobiamos para o lado.
E, tal como aconteceu com o nazismo,literalmente o império do mal! O relativismo passa a norma. E, é por isso, que falar da formação humana, indo contra a corrente hedonista dos nossos dias numa sociedade perdida de valores, onde cada um acaba por ir organizando erraticamente os seus,
é tão importante quanto o ar que respiramos.
E em pleno alto mar de redes sociais, da urgência de fazer scroll sem parar, com tempo, tudo se torna concomitante, e damos por nós num caos organizado! Mas que é anti natura. É caos.

É, também, quando temos de parar.
De voltar ao início.
De fazermos um reset coletivo, mas que não se consegue sem começar pelo individual.
E lembrar o que lembra o dia de hoje:
"Lembra-te que és pó
e ao pó hás-de voltar!"
Até lá, não podemos continuar "passivamente indiferentes", legitimando, por omissão, literalmente tudo, porque os imperativos éticos do bem e do mal parecem, agora, pertencer, ao que cada um concecione ser bem ou mal.
Só que não. É objectivamente Mal, a distopia em que vivemos, por maiores os argumentos invocados, incluindo jurídicos, já que o facto de ser lei, não significa que seja justa ou moral...
Se perdemos os valores em nome de uma modernidade doentia, então os doentes somos nós!