26.3.09

A SIDA E A IGREJA

Há coisas que importa reflectir. Sou a favor do preservativo, mas não da maneira como muitos são. A minha opinião foi transmitida e não vou voltar ao tema directamente.

O que me traz hoje à colação é a reflexão crítica destas duas citações que de seguida faço. Devemos sempre ver o outro lado da moeda, concordemos com o Papa, sejamos ateus, agnósticos ou crentes. Pessoalmente tenho sempre um grande distanciamento e atitude crítica em relação a tudo, Igreja incluída. Mas é esse mesmo distanciamento que me permite tomar posições individuais, próprias, sem deixar de tentar perceber e de conhecer e louvar, quando é o caso, sob pena de sermos os reaccionários oficiais da Nação sem conhecimento do muito que se faz, pegando nas pontas soltas do sensacionalismo e não falando de todo um vasto trabalho que está por trás. E como me move o sentido de justiça e não gosto de ver acossadas pessoas ou instituições sem lhe fazerem o retrato todo e não apenas o que interessa, deixo aqui estas reflexões. O tema podia ser a homossexualidade (que a Igreja compreende mas não aceita, o que acho um erro); a eutanásia (que da pano para mangas), as drogas, ou outro assunto sobre o qual eu pudesse ter uma posição indefinida (que, ao contrário de muitos, não sou sabedor de tudo e conhecedor com soluções infalíveis e dedos apontados).


Não. Tento ponderar, fazer uma interdisciplinaridade das varias áreas do conhecimento sem esquecer a ética e a moral (não somos meros seres instintivos... ou somos?) e a partir daí tentar ter opinião própria. E não apenas porque é giro malhar, sem mais quês, ainda que aqui e ali possa haver razão.


peço que nao me bombardeiem o blogue ;)


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"Na resposta a um jornalista sobre esta questão, Bento XVI responde nos seguintes termos "(…) não se pode solucionar este flagelo apenas com a distribuição de profilácticos: pelo contrário, existe o risco de aumentar o problema." Quem lide de perto com a sida sabe que é mesmo assim (veja-se o caso português em que apesar da distribuição gratuita de preservativos e da troca de seringas não melhora os seus indicadores). O combate a este flagelo passa hoje, graças ao progresso científico, por outras coisas, mais complexas, mais difíceis e mais caras e às quais os doentes africanos não têm acesso (nem muitos portugueses…). Tão-pouco o Papa foi aos Camarões recomendar a abstinência sexual como solução para a sida. Exortou sim à humanização das relações interpessoais em geral, e da sexualidade em particular.



Para além disto o Papa falou de tudo o que realmente interessa: a corrupção, o desperdício de recursos, o tribalismo, a lei do mais forte, a particular situação das mulheres, a fome, a doença, o imperativo da paz. Os milhões de africanos que caminharam ao encontro do Papa fizeram-no com o espírito de confiança que a Igreja cimentou nesses países onde está, não apenas na liturgia dos templos, mas no terreno, junto das populações, cuidando, tratando, acolhendo, provendo, como pode, à satisfação das suas necessidades mais básicas. Neste Continente que tantos dão de barato como "perdido", a Igreja desenvolve diariamente mil e uma acções junto daqueles que a geografia privou de toda a dignidade."

"A Igreja Católica é responsável por mais de um quarto das instituições ligadas ao tratamento dos doentes, em todo o mundo. Atribuindo a actual situação económica a um "défice de ética nas estruturas económicas", o Papa disse que é "aqui que a Igreja pode dar o seu contributo".


Em 2004, a Santa Sé apresentou a Fundação “O Bom Samaritano”, uma espécie de Fundo Global da Igreja Católica que tem como objectivo ajudar economicamente os doentes mais necessitados, de modo particular os contagiados pelo HIV. O esforço da Igreja Católica concentra-se na capacitação de profissionais da saúde, prevenção, cuidado, assistência e acompanhamento quer dos doentes quer dos seus familiares. Dados do ONUSIDA mostram que mais de um quarto de todas as instituições ligadas ao tratamento dos doentes de SIDA são iniciativa da Igreja Católica, sobretudo nos países mais pobres. Os religiosos e religiosas da Igreja Católica são responsáveis pelos cuidados e a assistência a 27% dos doentes de SIDA em todo o mundo,uma resposta que nem sempre é visível, obscurecida pela atenção quase exclusiva que se reservou à questão do preservativo. Os institutos religiosos estão empenhados em várias frentes:tratamento médico, prevenção geral, prevenção da transmissão mãe-filho, cuidados dos órfãos e das famílias atingidas, assistência espiritual, educação sexual e, por fim a pesquisa, em especial para se encontrar uma vacina contra a doença. A Igreja Católica está particularmente activa na África austral, onde a pandemia da SIDA alcançou a difusão de 30% na população entre 25 e40 anos e onde houve uma queda da expectativa de vida de 60 para 35anos.


DREAM: A SIDA apresenta-se em África associada a outros problemas: a pobreza, a desnutrição, a tuberculose, a malária, o escasso nível de educação sanitária, só para citar alguns exemplos. Extirpar a infecção por HIV deste contexto, não é possível. É necessária uma maior admissão deresponsabilidade: não só e não tanto em relação à doença, a SIDA, mas sobretudo, em relação ao sistema sanitário, o africano.


A luta contra a SIDA, nessa perspectiva, pode tornar-se no banco de prova de uma globalização mais responsável, mais humana, de um empenho em contracorrente em relação ao crescente desinteresse internacional para com a África. A Comunidade católica de Santo Egídio entendeu responder elaborando e promovendo o programa DREAM (Drug Resource Enhancement against AIDSand Malnutrition), contra a SIDA e a desnutrição. DREAM representa a realização de um sonho (significado da palavra em inglês), uma abordagem diferente à SIDA que unisse prevenção e terapia, uma abordagem diferente a todo o universo sanitário africano,sem as correntes do pessimismo e da resignação. Este programa de luta contra o HIV/SIDA em África permitiu assistir mais de 25 mil pacientes, para além de ter oferecido tratamento preventivo a mais de 20 mil adultos e crianças.Os 19 centros presentes em seis países africanos, incluindo Moçambiquee a Guiné-Bissau oferecem antiretrovirais, educação sanitária, testes de diagnóstico, suplementos nutricionais e o controlo e cura de infecções. Activo desde 2002, o DREAM (Drug Resource Enhancement against AIDS andMalnutrition) está também presente no Quénia, na Tanzânia, na Nigéria, na Guiné e no Malawi. O programa, totalmente gratuito, revelou-se um dos programas mais eficazes na prevenção e tratamento do HIV/SIDA nos países da África subsaariana.


97% das crianças que nasceram de mães seropositivas que beneficiaram do programa nasceram sãs e, depois de terem iniciado a terapia antiretroviral completa proposta por DREAM, mais de 90% dos adultos vivem bem e estão em condições de recomeçarem a trabalhar e asustentar a própria família.


Salvar da SIDA 800 crianças por dia é o objectivo da última campanha global lançada pela Caritas, intitulada “HAART” (Highly ActiveAnti-Retroviral Therapy – terapia antiretroviral altamente activa), promovendo um maior acesso a testes e tratamento do HIV para os menores. Com a campanha HAART (com um sonoridade semelhante à palavra coração -«heart» - em inglês), a organização católica para a solidariedade e a ajuda humanitária pede a governos e companhias farmacêuticas que desenvolvam tratamentos que podem salvar a vida de centenas de crianças, a cada dia que passa.

Em comunicado oficial, a Caritas recorda que as crianças nos países mais pobres não têm acesso a medicamentos pediátricos, que lhes poderiam permitir uma vida mais longa e saudável. Por outro lado, quando consegue ser testados, já é demasiado tarde, na maioria dos casos.A organização católica lembra que muitas das crianças que morrem diariamente nem sequer teriam sido afectadas pelo HIV se as suas mães tivessem sido correctamente tratadas durante a gravidez. A Caritas convida jovens de todo o mundo a unirem-se à campanha ,pressionando os governos e companhias farmacêuticas.


Francesca Merico, delegada da “Caritas Internationalis” junto da ONU,em Genebra, diz que “sem tratamento adequado, mais de um terço das crianças nascidas com HIV irão morrer antes do seu primeiro aniversário e metade delas antes dos dois anos de idade”.Esta responsável acusa as companhias farmacêuticas de não mostrarem interesse nos tratamentos antiretrovirais para crianças porque estes se destinam, sobretudo, “aos países pobres”. “Como é possível que o lucro se sobreponha às pessoas? Queremos que os líderes políticos digam às crianças do mundo que promoveram e respeitaram o seu direito à saúde”,