3.6.09

ELOGIO DA PAZ

Tirada no verão passado

Precisamos de Paz. Precisamos de parar a contagem do calendário. Precisamos de recostar a cabeça, de fechar os olhos por instantes e respirar silêncio. Não fomos feitos para a aceleração que nos envolve. Não fomos criados com toda esta indizível riqueza humana para ouvirmos ecos ruidosos dentro e fora de nós, incessantemente, numa batalha sem sentido. Precisamos de reaprender os vocábulos. Precisamos de nos lembrar do significado da Tranquilidade, da Afeição, da Serenidade. Precisamos de reencontrar a Paz.

Nada disto é discurso, se apesar da geada ou do calor pela manhã, do sono interrompido, da irritação provocada, do stresse epidérmico, da refeição apressadamente engolida, dos problemas constantes, considerarmos que necessitamos de maior respeito por nós mesmos, e calar essas vozes colectivas de ruídos tumultuosos que nada nos dizem. Podem fazer parte da nossa realidade, mas não quer dizer que sejam nossos. Podem por vezes ser inevitáveis, mas não significa que tenhamos de corresponder no mesmo grau. A resposta está na atitude e não no agir objectivo.

Vivemos na inquietude, na intranquilidade, na agitação forçada a que nos habituámos. Curiosamente há até quem não prescinda dela. E no entanto, quem disse que tinha de ser assim? Não devemos ser escravos de um ritmo que não é nosso. Precisamos de Paz. Não porque não saibamos o que ela é, mas porque começamos perigosamente a perder-lhe o sentido e a pensar que é um privilégio de monges ou eremitas. Não temos necessariamente de contemplar a imensidão do mar ou o azul do céu. Mas a serenidade interior, caminho para a Paz, não é um estado de contemplação. É um estado de quem se insurge, de quem se irrita, mas também de quem sabe zangar-se com os próprios motivos que nos tiram a tranquilidade. E quando as nossas cinzas não fizerem jus à nossa labuta, restará a explicação de que nos afadigámos pela mera sobrevivência. E, então, o que teremos sido? Insectos?
Arredados que andamos da serenidade interior, talvez levemos algum tempo a reconquistá-la, mas cada um, no seu ritmo próprio, acabará por perceber que se não regar a flor, ela definha e morre.

Até já.