26.3.12

CANÇÃO DAS ASAS



Porque estás triste no cansaço dessa vida?
Porquê o desalento consentido em sofrido lamento
Postura eternizada nos dias que te vives?
 
As palavras saem-te cadentes e baças
como lágrimas de chuva em dias melancólicos
onde bebes o brilho que te escapa.
 
Não, não digas nada.
 Sei que não dizes.
Não digas nada porque
 o teu sorriso te impele
 no caminho entre sinfonias apáticas
 que ninguém quer nem acredita teres,
...pois se do meio desse concerto que és tu
te saem as mais vívidas notas de jubilo e alegria
 numa exaltação a suprir o sofrimento
 e as falhas terceiras, qual espelho estragado
por onde te redimes
 
e cantas assim
num coração dorido e doente
porque toda a tua vida está cristalizada
 num antídoto que não tens.
 
E como quem se habituou a
 viver  numa torre que não quer
acenas o lenço da paz
em sorrisos e luzes que
te escondem as lágrimas
 há muito ressequidas.
 
Porque estás triste
 nessa solidão que julgam festa
e porque nada dizes
da verdade do teu ser?
 
Mas o sol e as gaivotas e o mar
 que da chuva se congrega
para te alcançar a paz,
dizem-te consabidamente que
 eles sabem de teu reino e 
de teu amor universal onde
 por tanto te dares em
 supostos bem-estar,
devias acabar já não tendo para ti.
 
E uma vez mais a chuva lava-te a alma
fazendo-te sorrir e passar adiante
como se nunca nada tivesse acontecido.
 
Assim é o orvalhar
 daqueles que acreditam
e é esse rasgar inocente
 que não contabilizas
como créditos de um qualquer "eu",
que te fará acordar
 noutra musica e noutro mundo
onde a areia te será tão leve 
quanto as estrelas,
e os sorrisos e as mãos de todos
 por quem te deste
 em gestos de alma única.
 
Bendiz-te,
pois do fel fazes mel
e da chuva não queres o sol
por nela saberes ler a paz
que este não te dá
qual dia gabando-se da
beleza que só a noite tem...
 
Parabéns, então.
Nesse viver amordaçado
 por elos frágeis de
um sucedâneo que escapou,
permaneces firme na
resolução de seres esperança
ainda que os anos te persigam
em contra-ciclo do que és.
 
Canta, canta, até te encontrares
de novo, perdido nesses passos
que abandonas...
 
 
...E escreverás nas estrelas o brilho de uma noite...