25.3.22

A LIÇÃO DO FILME "CLUBE DOS POETAS MORTOS"

 


"Clube dos Poetas Mortos", ("Dead Poets Society" no original), dispensa apresentações, mas vale a pena revisitá-lo como uma lição de vida que a maior parte das pessoas simplesmente não tem.

Um filme exemplar de arrojo e emoção, onde a lição é a de nos desinstalarmos das vistas curtas do egoísmo, e de planar com asas intemeratas além do politicamente correcto, esse impedimento odioso que trata com cortesia o desprezível, e com desprezo o sentido humanista de qualquer sentido de bem.
E a loucura de ir contra o instituído, não por libertinagem, mas por dever de ser! Gosto do sério, do culto, da erudição, da estética e da beleza, da elevação e da justiça, como gosto do humor, do sentido de entrega, do riso desbragado, amigo e descomplicado, da simplicidade e da sensibilidade.
Uma pessoa com sensibilidade consegue chegar onde onde outra muito inteligente mas deprovida dessa sensibilidade, não chega, por isso esqueçam a veleidade dos doutores, muito embora existam muitos que, numa extrema simplicidade, jamais duvidaríamos que o fossem.
Anda muita gente à procura de algo, impacientes e insatisfeitos, mas a vida não se faz numa determinada altura, como quando se termina um empreendimento, se casa ou se tem uma promoção! A vida faz-se em cada dia, como se ele fosse a estação alfa e ómega, mesmo sabendo que é com sonhos que continuamos, não para nos descomprometermos com o Hoje, mas para nos relançarmos em novas epopeias, cientes, porém, de que é sempre no Agora, no Momento, no instante, que devemos dar o que somos, sem medos de preços humanos, respeitos sociais ou cotações de credibilidade.
Se me pedissem para me definir cinefilamente, apresentaria a emocionante cena final do "Clube dos Poetas Mortos", onde um aluno revoltado com a injustiça que estava a ser feita contra o Mr Keating (oh captain, my captain, seize the day), o saudoso Robin Williams, não consegue lidar com a injustiça, vendo-o partir, e embora atado de mãos e braços, mostra-lhe que aprendeu a hombridade, que a vida não é feita da matemática dos livros, e que aprendeu que precisamos de nos desconstruir, e por isso ousa colocar-se de pé em cima da mesa proferindo a frase "oh captain my captain:. Alguns outros acabam por seguir o gesto, revoltados que estavam de nada poderem fazer, e por isso o mínimo seria homenagear o seu professor da mesma maneira como ele ensinou.
Enquanto o professor da instituição, hermético, quadrado e conservador, by the book, pede insistentemente aos alunos que desçam, ameaçando-os, mais de metade da turma contínua a dizer-lhe, de pé, em cima da mesa, que não passa de um ditador académico da velha guarda, que acaba de cometer a maior das injustiças só porque não ia pelos cânones, enquanto simultaneamente dão tudo o que podem numa perigosa e audaz homenagem ao professor agora demissionário, pondo-se de pé nas carteiras, deixando meia dúzia de cobardes que, obviamente, pensaram no politicamente correcto, nas consequências, não tiveram qualquer espírito de solidariedade e, muitos, provavelmente, nem aprenderam nada do professor, precisamente porque não eram livres. Daí a necessidade de nos desconstruirmos diariamente...
E quando soubermos rasgar a vergonha de ser, e ultrapassarmos o medo de depender do crédito que nos possam dar, e querermos agradar a todos, estaremos a cumprir com valor, a mensagem do filme em ousarmos ser simplesmente nós...