2.11.22

DIA DOS MORTOS?

 



Celebra-se hoje, dia 02, o dia dos Fiéis Defuntos.

No entanto, mais do que lembrar os mortos, é necessário reflectir sobre os vivos, e não na dor arrancada ao peito pelos que amámos e perdemos, como se também uma parte de nós se tivesse extinto, mas no juízo colectivo do socialmente correcto, nos cumprimentos e favores capciosos que fingem altruísmo e atenção, no passaporte obsessivamente carimbado com o visto da casa, do carro, do emprego e da família até à contracapa da reforma!
Se viver for isto, então, mais do que lançar um olhar ao passado pela recordação sentida de quem amámos, há que atribuir-lhes o exclusivo da vida, porque se os mortos têm a natural legitimidade de nada poder fazer, nós temos a ínsita obrigação de saber morrer antes do dia final. Morrer não é extinguir-se, mas dar-se. E dar é um acto de amor, de criatividade e de Vida!
A questão que se coloca, não pende para os que desapareceram do nosso convívio, nem para a dor que nos arranca a alma por já não termos quem amamos, mas para nós que continuamos o fado da criação, seguindo exemplos, moldando atitudes, aprendendo o erro! A experiência faz-nos! A morte também.
Afinal, que catálogo de emoções seguimos, ao ponto de hipotecarmos a vida?
A que prescrições sociais estamos restritos? À lógica do racionalismo puro? À moral egoísta? E tudo isto para quê? Credibilidade social?
Nada vale do que teorizamos na metafísica do viver.
Nada vale sem o amor inteiro e não pluri-partido, como uma baby-sitter que presta atenção a todos e a ninguém!
Porque, como o Sol irradia o seu brilho e fulgor, sem se importar com a sensibilidade de quem passa à luz, assim o Amor deve fazer, sem cuidar do egoísmo alheio.
Muita gente foi ontem e vai hoje aos cemitérios, mas talvez, afinal, que muitos dos mortos sejamos nós.