10.4.23

DOMINGO DE PÁSCOA

 



E chegou-se ao Domingo de
Páscoa, que significa transformação, conversão interior.

Faz-se Páscoa na abertura ao Outro, na luta contra as injustiças sociais, mas também nas cometidas por nós através do silêncio, ou porque não é nada connosco, ou simplesmente nos queremos dar bem com todos (mas quem não quer!?)

Quando não nos destituímos da obrigação de tomar partido perante qualquer tipo de desigualdade, discriminação, preconceito, injustiça ou abandono.
Quando, com dignidade, assumimos a nossa Cruz, mas não nos deixamos valer menos do que ninguém, porque não temos a mesma instrução académica, as mesmas posses, o mesmo status profissional ou influência social.

Porque não temos o mesmo número de amigos ou crédito de autoridade, e combatemos desigualmente com aquilo que somos, mas que desautoriza qualquer argumento que invoque uma posição inferior: essa dignidade de que falo, e que ninguém pode refutar, ainda que velada ou directamente nos ostracizem.

Valemos por quem somos, pela nossa formação humana, e não pelo que temos ou pelo aplauso do palco social.

Foi isto que Cristo fez, tão despido de falsas certezas, de dedos acusadores, de ideias preconcebidas, ou de negação de valores, e, com isso, se negarem também a si!

Pelo contrário, defende o frágil, o oprimido, Maria Madalena prestes a ser apedrejada ("quem nunca pecou que atire a primeira pedra" - como lembrei no texto de Sexta Feira Santa).

E sofre a dor da Cruz com dignidade, desejando desesperadamente não a ter, mas aceitando-a ao proteger as emoções, porque não o move a raiva ou a vingança, a maledicência ou a ignorância humana do outro, que embora o impactue no sofrimento, não é por ele provocada.

Absolutamente tudo tem um preço. E são sempre os mais altos que custam suportar. Mas não há preço que pague o valor de nos sentirmos Pessoas, e não meros seres sociais.

Faz-se Páscoa quando rimos com o Outro, porque paira sobre nós a pomba da Simplicidade e da Partilha, tal como, mesmo quando impotentes, irradia de nós a brancura do "estou aqui, simplesmente", autenticando que somos seres relacionais, e não imperadores do ego ou da soberba que, de resto, precisaria na mesma do Outro para pavonear a sua existência, no lado oposto da vida.
Viver, é morrer todos os dias, para todos os dias renascermos.

Desconstruirmo-nos, para nos reconstruirmos, com ferramentas que só a autocrítica, a abertura ao desconhecido e ao que difere de nós, a aceitação de toda uma complexidade humana que muitas vezes não compreendemos, mas que, talvez, não nos caiba ajuizar, nos poderão fazer entender o Mistério maior do milagre que somos, e da individualidade tão própria de cada Outro!

Nem sempre as pessoas precisam de conselhos. Muitas vezes, tudo o que precisam, é de alguém que as escute... e as abrace... E, também aí, se faz Páscoa!

E, se quando com esta naturalidade e simplicidade, soubermos viver, estaremos a contribuir para que haja Páscoa à nossa volta, em todas as mortes e renascimentos que todos os acontecimentos nos hão-de proporcionar...

Os meus desejos de Páscoa Feliz, são sempre desta Páscoa que vos falo, com o sorriso e a entrega dos que, mais do que se queixarem do que não têm, partilham o que lhes falta...