19.11.23

DIA DO HOMEM


Hoje é o Dia Internacional do Homem
e, é, precisamente, essa a pergunta: do que é ser Homem! Teria de escrever muito, falando de dinâmicas que, desde o passado, causaram raiva, angústia, medo, frustração, intolerância.

Pode ser pela ausência do pai, ou porque alcóolatra, violento, abusador, impotente, vitimizado, sem atitude, mas também resultantes de situações várias, que não o pai, ou as crenças que se vão formando, as imposições sociais, o padrão masculino (altamente desvirtuado), etc..
Começa logo aqui. Inculcámos em nós esta convicção do mais, da eficácia e da força, do ser mais e ter mais, da competição tácita, do tempo ocupado.
Tem-se a ideia de que ser-se Homem é ser autosuficiente, mas ninguém se faz e, muito menos, se realiza sozinho.
Um homem deixado numa ilha solitária, com todas as mordomias ao seu dispor, depressa esgotava a sua verdade existencial!
Esta terrível ideia de que ser Homem é bastar-se a si mesmo, é uma das piores falácias, porque se limita a endeusar o ego, tornando-se vítima de si mesmo, e viciosamente encontrando argumentos e desculpas para o seu próprio vazio!
É sempre na relação com o Outro que sabemos mais de nós, quer no processo individual de autoconhecimento, quer nos padrões mentais e comportamentais que nos levam à integração da nossa própria história.
A realização pessoal estará sempre incompleta, se não se fizer também no processo relacional, mesmo naquele que possa incomodar, porque é nesse incómodo que o Outro nos provoca sem saber, que somos interpelados a descobrir e interpretar o seu significado.
Sempre que recusamos comunicar connosco mesmos, com as nossas emoções, estamos a diminuir a nossa altura, artificialmente compensada com a imagem de tudo poder, e de tudo poder sozinho.
É muito pouco inteligente, aquele que reprime e/ou nega as emoções, porque se auto limita e não cresce!
Não se trata dos serviços mínimos das defesas comuns para tapar fragilidades, mas da sua própria negação.
De que, ser Homem, é proteger e ser protegido.
É dar afecto e saber que também precisa dele.
É animar o outro sem esquecer que também sofre.
É ajudar a secar as lágrimas, mas ter também quem seque as suas...
...porque também ele precisa de chorar...
É que uma pessoa continuamente forte, segura e "feliz", algures perdeu a noção de quem é, na imagem que forçadamente quer dar de si...


Sem um auto conhecimento profundo, e uma reflexão e autocrítica, as mais diversas situações que são registadas pelo crivo emocional, levam o Homem a um ciclo vicioso de tudo fazerem para nunca parecerem fracos.
Ora, isto, é masculinidade tóxica, uma contínua prova de força para provar a virilidade, mesmo uns contra os outros.
A própria sociedade encoraja a provar a própria virilidade, que se pode repetir em situações como o jogo de futebol amigável do fim de semana, no trânsito, no trabalho, no bar, no relacionamento e com os filhos.
E, depois, a maneira como respondem à pressão social, também contribui para o perpetuar desses pensamentos.
Há homens que, cientes do que é esperado deles, procuram repetir os padrões a que estão habituados, mesmo quando não desejam.
São motivados pela necessidade de se sentirem aceites. E tudo isto se torna um ciclo vicioso.
As crenças da sociedade, também contribuem para a eternização do padrão:
O Homem não chora.
O Homem não pode usar roupa cor de rosa.
Só o homem é que gosta de sexo.
Todo o homem gosta de futebol e cerveja.
O Homem precisa de ser quem faz com que nada afete a casa, o lar, como se fosse o provedor, ou será um fracassado.
O homem é que manda dentro de casa.
Um homem que gosta de coisas geralmente atribuídas a interesses tipicamente femininos (reality shows, teatro, musicais, sensibilidade para a beleza dos pequenos festos, e apreciador do estético e do belo, ou de flores, por exemplo) ,é gay.
Tudo isto causa problemas de auto estima e autoconfiança, e os Homens acabam por não se conectarem com as suas próprias emoções para não serem fracos.
Eis o busílis: se não se ligar às suas emoções, (e não se liga porque só isso já consideraria uma fraqueza, algo próprio do sexo feminino, nunca do masculino), nunca conseguirá desconstruir todos os padrões mentais que já estão enraizados, e se tornaram, em si, uma crença.
Logo, não desenvolvem a inteligência emocional para lidar com possíveis adversidades. É assim que nascem os colegas hostis, os amigos desrespeitosos ou os chefes agressivos, por exemplo.
Mas também os desconfiados ou os tão inseguros, que só a ideia de falarem das suas emoções, os aterroriza, não só porque, uma vez mais, isso não é próprio dos homens, mas porque, e sobretudo, os obrigaria a verem-se como exatamente são, tão fortes quanto frágeis, tão consoladores quanto carentes!
E, hoje, simbolicamente, no Cais do Sodré, houve um "Free Hugs", precisamente para todos consciencializarmos que o afeto não tem sexo. Tal como o Amor.
E, que, aquilo que o Homem julga ser fraqueza, é apenas uma negação do quão necessário e natural é amar, mas também ser amado; ajudar, mas também ser ajudado.
Quem não fala dos seus sentimentos, não tem saúde mental, e, afinal, o que é isso de terapia, senão sentar-se numa cadeira e falar dos seus problemas, sobre o que sente e o que o angustia?
E pode ser apenas desabafar com um amigo, mas se tudo persiste e nada melhora do seu desconforto, perceber a diferença entre um amigo (desabafo terapêutico) e ajuda especializada.
....e precisamente porque o que considera fraqueza, não passa da incapacidade (ou coragem) de, repito, entrar em contacto com as suas emoções, afinal, ironicamente, quantos homens não o são....
Muitos pensam que ser Homem, é ser um Super Herói, mas geralmente, quem pensa e age assim, é porque é ele que está a precisar que o salvem...